sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um pouco de Política

Por Sergio Antunes


Fernando Morais era Secretário da Cultura de São Paulo. Reuniu na Secretaria, com a concordância do Governador Quércia, o que podia ter de melhor em cada área. Entre outros, Arrigo Barnabé, Zuza Homem de Mello e Eduardo Gudin, na música, Claudio Khans, no cinema, Cláudio Cury e Mario Prata, no teatro, André Singer, para a relação com a Universidade, Pedro Paulo Senna Madureira, na Literatura, Mona Dorf, Luciano Martins e Milton Young, no jornalismo, Abelardo Blanco, nos audiovisuais, Glauco Pinto de Moraes, nas artes plásticas, Ricardo Ohtake, no Museu da Imagem e do Som, Renato Janine Ribeiro, da Filosofia e Pedro Braz, para as oficinas culturais.

Era uma fauna que fervia e borbulhava de idéias.

Na campanha eleitoral, Luiz Antonio Fleury, ex Secretário da Segurança, Procurador de Justiça e ex policial militar, se candidatava a Governador. Reuniu a turma num grande salão e expôs suas idéias. Alguém tem alguma pergunta? Mario Prata tinha. "Vai poder fumar maconha?"

De tarde, na hora do happy hour, tinha que ter ki-suco. Engarrafado, pelo menos, por oito anos. "Podia me servir uma lágrima?", insistia Pedro Paulo enrolado na sua echarpe londrina.

Havia viagens pelo interior. Seis, às vezes sete cidades num só dia, três ou quatro dias em determinadas semanas. O Prefeito recebia a ilustre comitiva, eu, o Fernando e o Tenente Grion, hoje Coronel Grion, para nossa completa segurança. "Na cidade anterior", explicava Fernando para a platéia atenta, "na cidade anterior, Piacatu". E, na dúvida, se socorria: "não é Piacatu, Sergio?" Aí o Assessor Parlamentar, que era eu, acudia professoral. "Não, Secretário, Piacatu é a próxima cidade". Ao que o Prefeito, até então calado, punha fim na questão: "Secretário, Piacatu é aqui". E foi aqui mesmo que passei a ser o Assessor pra lamentar.

Outra vez em Getulina, fica perto de Lins, o presidente do partido, gostava de discursar o danado, que Deus o tenha, "tomou da palavra", é assim que eles usam fazer, tomou da palavra e fez uma longa dissertação. "Dizem que a Secretaria mais importante é a da Fazenda, que detém os cofres do Estado. Outros dizem que é a da Educação, que ensina o ABC a nossos filhos, o futuro da Pátria..." E foi desfiando uma a uma as secretarias de estado para finalmente sentenciar: "mas eu, homem do interior, de mãos calejadas pelo cabo da enxada, sei que a secretaria mais importante é a Secretaria da Agricultura". Acho que ele era meio surdo.
No interior, de novo, uma cidadezinha que nem do nome eu lembro, de tão pequenininha. Não era para visitar o prefeito, que era adversário. Fomos a casa do presidente da câmara, o guarda noturno do município, para tomar um cafezinho, doce e morno, como costuma ser servido na roça.

O prefeito descobriu e mandou chamar na prefeitura, uma construção baixa e torta, parecia a casa do porquinho da história do lobo mau.

Na prefeitura, no gabinete do prefeito, um homem gordo e simples. Olha", diz o alcaide, "nunca recebi a visita de um Secretário. Por isso, nem sei o que pedir". Deu um tempo, olhando maravilhado para a delegação, Fernando à frente, com barba e charuto, quando teve uma idéia: "Senhor Secretário, não sei o que pedir. Mas dentadura, trator e zóio de vidro, pode mandar que tem serventia".

Sergio Antunes é poeta e escritor
Contato:
sergioantunes@ig.com.br

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