sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Platão, Tiriricas e Cacarecos

(Sergio Antunes)

Tenho visto a polêmica a respeito da eleição do Tiririca.
Trata-se de um palhaço profissional e semi-analfabeto que ganhou as eleições para deputado federal de São Paulo com mais de um milhão e trezentos mil votos.
Entretanto, para horror de todos aqueles que algum dia acharam que eu sou um sujeito sensato, nem sei se existe ao menos um que ache isso, eu penso que a eleição do Tiririca é fato absolutamente normal.
Seria o Tiririca pior que aquele político ladrão, nem vou falar o nome dele porque não precisa? Afinal, o leitor só não sabe a que político ladrão eu me refiro porque são vários. Pois é, a eleição do Tiririca é pior do que a eleição desses outros bacanas, que aparecem de terno e gravata na televisão, colarinho imaculadamente branco e cabelo preto como as asas da graúna?
É, um erro não justifica o outro, obtemperariam alguns, falando no linguajar, aliás, daquele deputado corrupto.
Mas a questão é que o Congresso representa o povo. E ele, o povo, não é feito de tiriricas? Não é esse o povo tão interessado em futebol que bate em jogador quando o seu time perde, mas que nem se lembra em quem votou nas últimas eleições? Não são todos uns tiriricas, com a diferença que, sendo semi-analfabetos, são apenas palhaços amadores?
Ou o povo só é bom quando vota nos nossos candidatos?
Enfim, Tiririca só foi eleito porque é o povo brasileiro a cara dele, cuspido e escarrado. Para isso é que serve a democracia.
Platão, o filósofo grego, na sua República idealizou uma cidade em que prevaleceria apenas a racionalidade. Nela, seria abolido o sistema dos mais votados serem os governantes diante da constatação de que nem sempre os mais votados são os mais capazes. Por isso, apenas os sábios votariam e seriam votados.
A experiência mais próxima da República de Platão aqui no Brasil é a Academia Brasileira de Letras. Só votam os imortais, os melhores escritores, os sábios da nossa sociedade. E elegem Getúlio Vargas, Lira Tavares, ex-Ministro da Guerra, que assinava Adelita e, recentemente, Marco Maciel, que derrotou Fernando Morais. Tiriricas da literatura.
Winston Churchill dizia que a democracia é o pior regime... depois de todos os outros.
Ou seja, deixem o Tiririca em paz, junto com o Cacareco, com Enéas, que Deus o tenha e com todos os exóticos que já foram um dia votados. Ninguém sabe com certeza se não pode dar certo.
E certo mesmo, absolutamente certo, é que o que vem depois da democracia é muito pior.

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